Marketing alimentar: a arma secreta da obesidade
É importante começar este post com uma declaração de princípios: tenho uma licenciatura em ciência da comunicação e um mestrado em marketing com 15 anos de experiência de trabalho em ambas as áreas pelo que o texto que irão ler é de alguém que considera perceber minimamente do tema que vai falar e sim vai obrigar-se a colocar em causa o marketing.
Por outro lado, sobre nutrição, pouco ou nada ainda percebo, e assumo sem qualquer problema que tem sido dos meus maiores desafios aprender o mais possível sobre este tema e descobrir o quão complexo é e o quão enganados, nós consumidores, somos.
Duas áreas tão diferentes mas com um ponto em comum: com qualquer pessoa que falem tem um “doutoramento” nelas e tem uma opinião a dar.
Mas vamos focar-nos no essencial o porquê de fazer uma afirmação tão radical. Os puristas dirão: o marketing não tem culpa, comeste porque quiseste, tinha lá informação nutricional consultasses, come fruta, blá, blá, blá. Conheço todos esses argumentos e até defendo alguns, mas há limites, limites que na minha óptica de leiga da nutrição, já foram há muito e em larga escala ultrapassados. Não é por acaso que produtos como tabaco, álcool ou jogo tem a sua comunicação limitada ou praticamente nula, tal acontece porque são produtos passiveis de gerar vicio….já sabem a minha opinião relativamente à comida: é igual.
Para todos? Claro que não, mas 67,6% da população portuguesa acima dos 15 anos tem excesso de peso ou é obesa segundo o relatório Health at a Glance da OCDE de 2019. 67,6%!!
Acho que estamos de acordo que a obesidade é uma doença, acho que está na altura de a olharmos todos como tal e isso implica alguma responsabilização das marcas e regulação e controle da comunicação alimentar que é feita. Não vale tudo para vender caros colegas, e os consumidores só são “burros” até deixarem de o ser. E esse é o meu objetivo com este post, não é doutrinar sobre o que devem ou não comer mas sim alertar para temas em que eu própria fui enganada durante anos e em que acho fundamental estarem informados e conscientes do que realmente comem, e que o fazem porque querem e não apenas porque são crédulos num marketing completamente desregulado.
Importante frisar três ou quatro pontos:
- Não me refiro aos produtos ditos “normais”, refiro-me a produtos que deliberadamente utilizam chavões de marketing como “light”, “bio”, “sem açúcar”, “magro” e uma análise com mais atenção da tabela nutricional e dos seus ingredientes nos dão desagradáveis surpresas.
- Quem compra este tipo de produtos ou tem uma doença em que deve evitar os açucares (como um diabético) ou é alguém que está a tentar alterar a sua alimentação e acredita na credibilidade das marcas.
- Quem compra este produtos está fazê-lo com um objetivo de melhoria de saúde e paga por isso…muito…estamos a falar de produtos que custam normalmente o dobro das versões “normais”.
- Obviamente que não podemos generalizar este tipo de situações a todos os produtos e há efectivamente os que são confiáveis e com um nutriscore efeticamente bem aplicado.
Quem não passou por isto, não atire a primeira pedra, porque pode levar com ela! Convido-vos a ler com mais atenção os rótulos dos vossos produtos habituais! Analisem as composições, quanto mais produtos mais o campo é minado. Analisem as tabelas nutricionais…ninguém dá nada a ninguém, se não há açúcar…há mais gordura e vice versa!
Não há aqui regras do que podem ou não podem, depende dos vossos objetivos, crenças e foco! Mas independentemente disso é urgente que haja mais conhecimento sobre o que compramos e comemos! Porque sim podemos comer “junk food” mas que saibamos exatamente o que estamos a comer.
Podia dar-vos centenas de exemplos em que os produtos “normais” são afinal bem mais interessantes nutricionalmente que os ditos “light”, “bio”, “sem açúcar” mas termino este post como comecei, não tenho qualquer formação em nutrição e continuar a acreditar que é em profissionais creditados a quem devemos recorrer para obtermos informação fidedigno. Poderei no blog ou nas redes ir de quando em vez dando alguns exemplos mas recomendo umas das várias nutrionionistas que sigo, um instagram obrigatório para mim, da Drª Ana Goios e que vos vais ajudar a desmitificar muitos destes “enganos marketeiros”. Tem dezenas de exemplos de comparação de rótulos.
Nota: A imagem que partilho é hoje em dia das mais valiosas ferramentas que utilizo quando faço compras. É uma informação oficial e que vos ajudará com certeza a ter mais literacia nutricional.