Como já partilhei vivi uma vida de yo-yo e sem me aperceber,na maior parte das vezes, dos limite a que levava o meu corpo.

Tentei a todas as dietas das mais tradicionais e algumas mais especificas que me trouxeram resultados pelo menos a curto prazo. Mas na minha cabeça houve sempre uma certeza: fazer Bypass, nunca, isso é para obesos não era para mim (falta de noção completa!).

Infelizmente já percebi que os estigmas que eu tinha relativamente à intervenção são transversais e por isso acho importante contar-vos o percurso até à intervenção cirúrgica.

Até 2004 sensivelmente, (aos meus 20 anos) o meu peso andou sempre entre os 58 e os 60 kg, como já vos contei, depois de ter deixado a natação e ter entrado na universidade a falta de razoabilidade alimentar e a falta de exercício fisco fizeram com que de repente em um ano engordasse para os 86 kg e sempre com o incentivo parental parti para aquela que considero a minha primeira dieta a sério: a dieta LEV , uma dieta hiperproteica em que durante 3 meses ingeri de forma rigorosa os substitutos de refeição (não são líquidos, são refeições adaptadas) e onde vamos introduzindo aos poucos a alimentação normal. Fui extremamente bem sucedida e ao fim de três meses voltei aos meus 58kg.

Mas o tema é que o peso estava perdido, mas o problema não estava tratado. E não a culpa não é da dieta LEV, o problema era meu. Conclusão mantive mais ou menos o peso um anito e voltei a engordar tudo….e mais uns kgs e chego a 2012 já com 108kg. Nessa altura já com vontade de ser mãe mas sem condições físicas para o ser.

Então se tinha resultado uma vez, porque não fazer segunda vez? Voltei novamente à LEV, mas desta vez com um desafio maior perder cerca de 40kg, e mais uma vez com sucesso cheguei a 2013 com 58kg, e nessa altura já com toda gente a dizer-me que estava magra demais. Ora não é preciso adivinhar que rapidamente fui voltando aos velhos maus hábitos e engordando. Mais uma vez reforço, não a culpa não é da LEV, a culpa é minha que não fui capaz de me reeducar e voltei aos poucos a comer todas as porcarias que comia e a não fazer exercício. A LEV tal como também o bypass, é uma oportunidade de voltar “à casa de partida” não é uma solução para a vida, se voltas a fazer a mesma alimentação, obviamente voltas a engordar, não há dieta ou operação que te salvem, mas eu demorei muito, muito tempo a perceber isso.

Em 2014 quando engravido já estava com 80 kg. Na gravidez fui-me portando bem e quando a minha filha mais velha nasceu, em Maio de 2015, pesava 92kg…

…só que no dia que ela nasceu tomei uma decisão que levou ao meu declínio final: deixei de fumar.

Ora juntar hormonas, amamentação, noites sem dormir e vontade de fumar foi igual a madrugadas em que chegava a comer uma pacote inteiro de croissant de chocolate. Ao fim de 4 meses de licença de maternidade tinha 120kgs e não saí mais de lá até que no final de 2018, de surpresa, descubro que estou grávida.

Pânico!…como é que eu vou aguentar uma gravidez com 120kgs, como é que eu vou ficar?? É nesse momento que tenho a sorte de ser encaminhada para acompanhamento de gravidez de risco no Hospital de S. João por uma equipa multidisciplinar, não só de obstetrícia mas também endocrinologia e nutrição. Uma equipa multidisciplinar que me acompanhou de forma soberba e que fez com que eu não engordasse um único kg na gravidez…aliás consegui perder 5kgs. Além disso nessa altura sem me aperceber comecei a perceber que uma simples dieta resolve-me o problema no momento mas não me resolve o problema a longo prazo e que talvez precisasse de ajuda. Mais incentivada fui pela minha obstetra ao encaminhar-me, após o nascimento da minha filha mais nova, para consulta de cirurgia de obesidade…mas eu ainda não estava pronta…porque a minha reacção na altura foi “eu não preciso disso”.

De regresso à amamentação, mas desta vez já sem o problema do tabaco, engordei os 5 kg que tinha perdido na gravidez e voltei aos 120kg e por lá fiquei até ao primeiro confinamento, em Março de 2020…e aí em casa com uma filha em aulas online e uma bebé de 8 meses, assoberbada pelo teletrabalho em 1 mês engordei dez quilos e cheguei aos 129.7

Foi o clique que faltava: “Chega eu tenho de parar isto antes que pare de vez”.

Se com a minha filha mais velha deixei de fumar com a mais nova tenho de conseguir voltar a “ser eu”.

Primeiro pensamento: vou voltar à LEV, eu só preciso de conseguir voltar à estaca zero. Não, não era só isso que eu precisava e em breve iria descobrir.

Até então, qualquer tipo de intervenção cirúrgica continuava fora das minhas hipótese: pelo risco, porque reajo sempre muito mal a anestesias, porque não queria ficar com peles, porque não queria tomar medicação toda a vida, porque não queria ficar careca….etc etc etc.

Incentivada pelos meus pais falei com uma amiga que me conhece desde que eu conheço, que passou por problemas e “soluções” idênticas à minha até que decidiu fazer um bypass. Na conversa com ela continuei muito relutante mas aceitei ir a uma consulta com o Dr. John Rodrigues Preto no Hospital dos Lusíadas do Porto…e depois dessa consulta a minha vida mudou.

Mas será que ele me disse alguma coisa que eu já não soubesse? Não. Apenas me mostrou que eu tinha de mudar e o bypass era a ajuda que eu precisava assim como a equipa multidisciplinar que ele lidera (cirurgia, nutrição, psicologia e endocrinologista) e que todos os entraves que eu colocava à cirurgia, não faziam sentido nenhum. Saí dessa consulta sem certezas de nada mas com uma bateria de exames para fazer e a decisão da minha vida para tomar.

Mas sobre todo processo pré-cirúrgico (exames e consultas) contarei tudo num próximo post.

Se entretanto tiverem dúvidas, questões ou sugestões de temas não hesitem enviar-me um email geral@projetoborboleta.pt ou através das redes sociais @projetoborboleta.bypass