Há um ano, renasci.
Depois da mais difícil decisão, tinha chegado o grande dia.
Medo era o sentimento que me inebriava. Sendo uma operação de risco tinha muito medo do que podia acontecer no bloco naquela manhã de 22 de Agosto de 2020.
Dei entrada no Hospital dos Lusíadas do Porto pelas 6.30 da manhã, havia vários procedimentos a cumprir antes da intervenção marcada para as 10.00 da manhã. Desde os mais burocráticos, aos financeiros como algumas conversas com o corpo clínico que me acompanhou nesse dia: desde a enfermagem, ao anestesista e naturalmente com o meu cirurgião (ou meu anjo da guarda).
Depois de ter dado entrada no quarto comecei a ser preparada para a cirurgia pela equipa de enfermagem e por volta das 9h estava pronta para o ir para o bloco com as minhas belas meias para evitar a retenção de líquidos.
Entrei no bloco muito perto de um ataque pânico queria que tudo terminasse rápido. Lembro-me do médico me ter avisado do desafio que tinha pela frente, devia ter perdido muito mais peso para a intervenção, mas entrei no bloco com 129,7kg o que implicava ter enormes camadas de gordura até chegar ao estômago.
Para quem não conhece o procedimento “o bypass gástrico, também conhecido por bypass em Y de Roux ou cirurgia de Fobi-Capella, é um tipo de cirurgia bariátrica que consiste na redução do tamanho do estômago e na alteração do intestino. Essas alterações levam a pessoa a comer menos, além de diminuir a quantidade de calorias que é absorvida pelo intestino.”, mais fácil será de perceber com a consulta da imagem:
A cirurgia tem duração média de 1h30 mas recordo que no meu caso havia ainda uma hérnia do iato para corrigir e uma vesícula com duas pedras para retirar…o que acrescentaria mais 15/20 minutos à intervenção…mas as camadas de gordura era tantas que demorou 3h a terminar.
Adormeci a visualizar mentalmente uma foto linda das minhas filhas…e assim acordei…mas sem filtros…o acordar mais difícil que já tive…como se tivesse sido atropelada. Nunca reagi bem a anestesias e esta não foi excepção. Foi um processo de recobro lento, com muitas náuseas e mau estar. Mas por volta das 16h estava finalmente no quarto e apesar de ainda muito sonolenta tinha um objectivo muito claro…que é a melhor dica que vos posso dar para qualquer intervenção cirúrgica: assim que tenha autorização médica peçam para se levantar, mesmo que isso implique um grau significativo de dores, náuseas e tonturas, façam o levante (acompanhados obviamente). Além de se libertarem da mais humilhante fase de não poder ir ao WC e ter de chamar os enfermeiros para tudo, também irão dar um sinal claro ao corpo para recuperar e reagir. Neste tipo de intervenção há ainda outra vantagem, para alcançar os orgãos é inserido gás para dilatar, gás esse que após a cirurgia tem tendência a subir para os ombros e que trás bastante desconforto nas primeiras horas, e só uma forma de o combater…caminhando devagarinho no quarto.
O bypass gástrico é feito normalmente por laparoscopia, e assim foi no meu caso. Sendo que em termos de costuras são 4 furos + o dreno. Nada que incomode…pelo menos a mim não.
Não se sintam assustados quando digo que as primeiras horas são duras…não é nada que não se aguente e ninguém pode estar à espera que uma intervenção destas seja fácil…mas reforço com o foco certo no objetivo tudo se consegue. Não há impossíveis!
Começava em poucas horas o segundo desafio…a dieta liquida….mas sobre ela conto-vos num próximo post.
Até lá, foquem-se em vocês e no que querem mudar, em 90% dos casos só depende de você e de deixarem de dar desculpas a vocês próprios. Nada se alcança de um dia dia para o outro….ninguém acorda no dia a seguir magro, há um longo e desafiante caminho pela frente que começa com a cirurgia.
“A tua direcção é mais importante que a tua velocidade”
Paciência e Persistência.