Sou uma pessoa de sorte, da marcação da primeira consulta com o Dr. John até ao dia da cirurgia passaram apenas 3 meses.

Sou uma pessoa de sorte porque tive a oportunidade de fazer todo o processo num hospital privado. Conheço inúmeras histórias de quem espera anos para ter a primeira consulta, pelos exames e finalmente pela ansiada cirurgia. Eu mesma fui reencaminhada para cirurgia de obesidade num hospital publico em Junho de 2019 e fui convocada para a primeira consulta dois dias depois da minha cirurgia no hospital privado.

Portanto todos os meus dramas e dúvidas não se reportam a tempo de espera mas sim a dúvidas sobre os efeitos da cirurgia a médio e longo prazo (que já vos falei em posts anteriores) e pelos custos muito consideráveis de todo o processo.

Foi exactamente assim que saí do consultório do Dr. John em Maio de 2020, com muito mais dúvidas que certezas, com um molho de folhas para uma bateria de exames obrigatórios pré-operatório e mais 4 consultas marcadas: psicologia, nutrição, endocrinologia e a segunda consulta com o Dr. John onde tomaríamos decisões. Porque é importante referir só depois de avaliados os exames e só com o parecer positivo de todas as especialidades se pode avançar.

Sinceramente, naquela altura, eu queria uma solução mas continuava a achar que não era aquele o caminho, que estava a escolher o “caminho mais fácil”. Mas achei que fazer a bateria de exames seria uma boa opção para verificar como estava a “máquina” depois de anos de negligência e 130kgs.

Os exames…

  • Análises Completas ao Sangue e à Urina: apesar de alguns sinais preocupantes confesso que estava à espera de muito pior porque apesar de valores altos nenhum ultrapassava os limites;
  • Ecocardiograma: uma boa surpresa e o resultado de 16 anos de natação, a máquina estava impecável.
  • Endoscopia: o exame que mais receio me dava, até porque já o tinha feito há uns anos, foi afinal dos mais fáceis, com a preciosa ajuda de sedação foi um belo sono de meia hora que veio confirmar dois pontos determinantes para a minha futura decisão: o estômago estava impecável e a análise ao vírus H. Pylori (bactéria que se aloja no estômago ou intestino, que prejudica a barreira protetora e estimula a inflamação, podendo provocar sintomas como dor e irritação abdominal, além de aumentar o risco do desenvolvimento de úlceras e cancro) deu negativo. Mas confirmamos um dos pontos que temíamos e que dava mais força ao bypass porque era a única forma de resolver o problema, tinha uma hérnia de hiato que me provocava problemas persistentes de azia.
  • Ecografia Abdominal: mais uma vez confirmamos que o aparelho digestivo estava bem mas acabamos o exame com uma surpresa (de que eu desconfiava há anos mas que nunca tinha sido detectado): tinha dois belos pedregulhos na vesícula, e ela tinha de sair com urgência correndo o risco de fazer mais estragos.

Confesso que após o resultado dos exames a minha atitude começou a mudar por dois pontos: primeiro porque constatei a sorte de ter 130kg e não ter doenças graves associadas, pelo que tinha que agir antes que o corpo não aguentasse mais. E porque chegando à conclusão que tinha de ser operada e tinha (sendo o meu maior receio o efeito da sexta anestesia que levava na vida) então que me permitisse alterar a minha vida.

As consultas…

Começamos então a maratona de consultas:

  • Nutrição: Tentar perceber os meus hábitos mas acima de tudo a minha capacidade de adaptação para o processo pós intervenção, para a minha reeducação alimentar, para a minha alteração de hábitos desportivos mas essencialmente para ficar claro que o Bypass não faz milagres, só nos permite ir à “estaca zero” se não alteramos a nossa relação com a comida, o que comemos, as quantidades que comemos e não fazemos desporto, garantidamente votaremos ao peso que tínhamos. Como já referi no post sobre o meu percurso até à cirurgia, a culpa nunca é dos processos, é nossa que não sabemos/conseguimos gerir a nossa alteração de vida.
  • Psicologia: diria que foi a consulta mais importante e o xeque-mate para eu perceber definitivamente como cheguei aquele ponto, quais foram as causas, o que tinha de mudar, e que barreira de protecção criar. Foi a psicóloga que me disse tudo isto? Claro que não, mas ajudou-me o suficiente para eu organizar pensamento e perceber causas e agir perante essa informação.
  • Endocrinologia: uma avaliação cuidada do meu histórico e o traçar de estratégias para que não haja nenhuma quebra hormonal grave, défice de vitaminas etc. Para que nada disso aconteça é necessário que quem faz esta intervenção tenha consciência que terá de fazer suplementação vitaminica para o resto da vida, uma vez que com o bypass não é apenas o estômago que tem um corte de 90%, também uma parte do intestino, o duodeno, responsável pela absorção de vitaminas, é cortado.

Todas as especialidade deram um parecer positivo à operação…faltava eu dar…

A Decisão…

…já estava tomada (ou quase) quando cheguei à consulta com o Dr. John. Sabia que tinha de mudar a minha vida e que aquele não era ao caminho mais fácil mas sim um caminho estruturado e que focado no rumo certo me podia levar aos meus objetivos.

Faltava apenas um ponto, a pergunta que mais recebo…quanto custa fazer um bypass.

Não sou o melhor exemplo pelo que é perigoso tomarem-me por referencia. Como já vos contem tinha dois problemas de saude para resolver cirurgicamente na mesma intervenção que o meu seguro comparticipou. Mas no meu caso o valor rondou os 6000€.

É muito? Sem dúvida, principalmente quando sabes que outras intervenções estéticas serão necessárias no futuro (de que falarei noutros posts). Mas chegados a este ponto desistir não é opção, e sendo totalmente transparente só há dois caminhos:

  • Podem pagar a cirurgia? Quanto vale a nossa saúde de volta? Muito mais do que a cirurgia certamente.
  • Não temos capacidade financeira para o fazer? É altura de ir ao médico de família pedir bateria de exames e reencaminhamento para cirurgia de obesidade no hospital público de referencia que preferirem. Vais demorar 3, 4, 5 anos, talvez vá…mas não é melhor esperar isso do que adiar o problema e tê-lo para a vida inteira?

Comecei por vos dizer que tinha sorte…era esta a sorte que me referia….3 meses depois da primeira consulta estava pronta no quarto do hospital à espera de ir para o bloco…