Quem chega ao limite que eu cheguei tem de perceber um facto de forma clara: o problema não está no peso, não está na falta de mobilidade, não está nas dietas, nem na tiróide, nem na falta de exercício. O problema está na nossa cabeça. E como digo tantas vezes eu fui operada ao estômago…não fui operada ao cérebro.

Se quem não conhece o processo acha que é o “caminho fácil” pretendo mostrar-vos que estão enganados. Para quem conhece e acha que não consegue, também vos irei mostrar que nada é impossível desde que retirem duas palavras do vosso léxico “não consigo”.

1º MOMENTO

Fui atleta de natação durante 12 anos, como sempre tive tendência a engordar cresci entre treinos e restrições alimentares para que a minha performance fosse a melhor. E apesar do enorme esforço que representa abdicarmos de uma vida “normal” de criança/adolescente em prol de um desporto, eu era genuinamente feliz. Só que a restrição vivida durante tantos anos deixou marcas, que eu não me apercebi, ou não tinha sequer idade para as perceber e quando abandonei a natação, descobri o mundo sem horas para me alimentar, sem planos alimentares, sem listas de alimentos preferenciais e comecei a viver sem qualquer regra quer fosse no tipo de alimentos ou na quantidade. Não tardou que o meu corpo, até então atlético, começasse a ceder no peso e a roupa a fugir.

2º MOMENTO

Neste momento entra o segundo problema, apesar de me considerar um ser sociável nunca fui influenciável, o que fazia com que também tivesse muito pouco em conta o que os outros pensavam ou diziam sobre mim. Se era gorda, magra, feia, bonita, se tinha uma cicatriz enorme na garganta (que me deu inúmeras alcunhas na adolescência) nada me afectava. Porque se eu estava bem comigo, o que os outros diziam ou pensavam era-me completamente indiferente.

3º MOMENTO

Não sendo suficiente chegamos ao terceiro problema, o conceito “dieta”. Não, para mim fazer dieta nunca foi um problema, como já partilhei fazer restrição alimentar foi algo com que convivi muitos anos e sendo resiliente às vezes acima da média as dietas eu cumpria…o problema era manter! E mais mais uma vez a culpa não é da dieta, é da nossa cabecinha, o chamado “cérebro de gordo” que acha que depois de ter emagrecido pode voltar a comer tudo e não fazer exercício, sem qualquer problema. Lamento ser eu a dizer-vos mas a obesidade é uma doença, uma doença para a vida inteira, e como qualquer doença a cura tem de ser respeitada ou doença regressa.

Se não estiverem prontos para essa mudança, não vale a pena começarem.

Porque partilho estes três momentos? Porque o primeiro passo para mudarmos a nossa vida é perceber o ponto em que tudo começa a correr mal. Identificar para resolver. Estes três episódios são a explicação do que leva uma atleta que pesou até aos 20 anos 58kg a entrar num processo yo-yo que chega ao auge em 2020 com 130kg. Depois para que percebam que se não resolverem o problema psicológico, uma dieta não resolve nada.

A comida é um vicio para mim (não, não deixou de o ser e ter isso presente é o meu foco) portanto como qualquer vicio tem de ser cortado pela raiz. Comparo muito este processo a outra luta que já travei: deixar de fumar. Fumei durante 16 anos, tentei deixar de fumar dezenas de vezes, invariavelmente tudo acabava com a frase “é só um”, e lá regressava o vício. Terminou há 6 anos quando eu decidi, acabou mesmo. Se ainda tenho vontade, sim claro, mas não o suficiente para me esquecer do que me custou deixar de fumar, não o suficiente para me esquecer que se fumar um vou voltar a fumar. A minha relação com a comida, é exactamente a mesma. É um vicio e tem de ser tratado como tal.

E não, não tive qualquer incentivo dos profissionais de saúde que me seguem para o fazer, porque neste momento tenho carta branca para comer o que quiser. Mas eu decidi que há alimentos que não vou ingerir mais (pelo menos de forma consciente se os rótulos me permitirem, mas este tema ficará para outro post). Reforço não vou ingerir, não por que não possa, mas sim porque não quero, não me fazem falta e são o gatilho para que o problema volte.

A lista é pequena:

  • Não consumo produtos com açúcar adicionado;
  • Não consumo produtos com gás (para terem uma ideia em 2020 o meu consumo médio diário de coca-cola era de 1 litro);
  • Não como fritos;
  • Evito ao máximo qualquer adição de gordura;
  • Evito ao máximo molhos.

Já me perguntaram: e não és infeliz? Não, de todo. E não tens desejos? Sim claro que sim!

Como contorno o problema: reeducação alimentar!

Descobrir novos alimentos, novas receitas, processos de adoçar naturais através de plantas e frutas, etc etc. Tópicos que também partilharei convosco e que vos convido já a acompanhar através das receitas que vou testando ou das nutricionistas que sigo.

Se vou ser capaz de manter? Isso é o meu desafio para o resto da minha vida e este blog e a tatuagem que ontem fiz servem exactamente para que nunca me esqueça dos meus compromissos pessoais.

Foto e Tatuagem por Sofia Dinis

Nota final: além das mudanças psicológicas e alimentares é imprescindível as mudanças na actividade física…mas isso ficará para outro post.